A Criança Ferida Dentro de Um Adulto
Você já parou para pensar que, mesmo sendo adultos, carregamos dentro de nós uma versão mais jovem de quem fomos? Uma criança que, em algum momento, pode ter sido machucada, ignorada ou incompreendida. Essa "criança ferida" não desaparece com o tempo; ela vive em silêncio, influenciando nossas escolhas, nossos medos e até a forma como nos relacionamos com o mundo.
Abel Miki
3/27/20252 min read


Muitas vezes, não percebemos sua presença. Ela se manifesta nos momentos em que reagimos exageradamente a uma crítica, quando sentimos um vazio que não explicamos ou quando buscamos desesperadamente a aprovação de alguém. Esses são ecos de experiências que nos marcaram na infância – um grito abafado que o adulto tenta ignorar, mas que a criança insiste em lembrar.
De onde vem essa criança ferida?
Ela nasce das nossas vivências mais frágeis. Pode ser a lembrança de um pai ou uma mãe que nunca elogiou o suficiente, de um amigo que nos deixou de lado, ou até de uma expectativa que colocaram sobre nós e que nunca conseguimos alcançar. Não é preciso ter vivido grandes traumas para carregar essas feridas; às vezes, pequenos cortes emocionais, acumulados ao longo do tempo, são o suficiente para moldar quem nos tornamos.
O interessante é que essa criança não é apenas um peso. Ela também guarda a nossa essência mais pura: a curiosidade, a espontaneidade, o desejo de amar e ser amado. O problema é que, quando ferida, ela se esconde atrás de defesas que criamos como adultos – a armadura da indiferença, o escudo do perfeccionismo ou a muralha do isolamento.
Como reconhecer e acolher essa parte de nós?
O primeiro passo é olhar para dentro com coragem e gentileza. Pergunte a si mesmo: "O que me machucou lá atrás que ainda dói hoje?" Talvez seja a sensação de não ter sido visto, de ter sido cobrado demais ou de ter se sentido impotente diante de algo. Identificar essas feridas não é fácil, mas é libertador.
Depois, é preciso acolher essa criança interior. Isso não significa apagar o passado ou fingir que ele não existiu, mas sim oferecer a ela o que talvez tenha faltado: compreensão, paciência, um espaço seguro. Pode ser escrevendo uma carta para si mesmo, revisitando memórias com um olhar mais maduro ou simplesmente se permitindo sentir sem julgamento.
A cura é um processo
Cuidar da criança ferida dentro de nós não é algo que acontece da noite para o dia. É um processo de autoconhecimento que exige tempo e, muitas vezes, apoio – seja de amigos, de um terapeuta ou de práticas como meditação e escrita. Mas, aos poucos, percebemos que ao curar essa criança, o adulto que somos hoje se torna mais leve, mais inteiro.
No fim das contas, todos nós temos uma criança ferida em algum canto da alma. Ela não é um fardo a ser rejeitado, mas uma parte de quem somos – uma parte que merece ser ouvida, abraçada e, acima de tudo, amada. E você, já parou para ouvir a sua?
Abel Miki
(24) 974040409